Universo Sandman: O Coríntio [contém spoilers]

 
“Sabem, normalmente eu não falo em público. Mas a oportunidade de falar a todos vocês é boa demais para deixar passar. Porque vocês são pessoas especiais. Pessoas muito especiais. Nós somos os sonhadores americanos, seguimos na rodovia sagrada em direção à sabedoria pavimentada com ouro e sangue. E através dos caminhos nesse país justo, estamos matando pessoas.
Nós não fazemos por dinheiro, nós não fazemos por vingança. Nós não matamos pessoas anonimamente, os envenenando ou colocando cacos de vidro em comida de bebês. Nós não atropelamos pessoas nas calçadas. Nós não entramos armados em restaurantes e atiramos para todos os lados até que a polícia estoure nossos cérebros espirrando tudo nas batatas fritas!
Nós não assassinamos por lucro. Nós não matamos para o governo. Nós matamos para matar. Nós somos empresários num setor em franca expansão. Nós somos gladiadores, somos soldados, heróis e reis da noite. Nós somos os que vivem e isso é uma vitória. Nossa vitória. E nossa glória!”

Pouco se sabe sobre o Coríntio antes dos eventos narrados em Sandman #10 (out/1989), sua primeira aparição. Um homem de cabelos brancos e aparentemente tranquilo, sempre de óculos escuros, sempre muito bem-vestido, quase sempre apenas com roupas brancas, é difícil imaginar sua real natureza: o Coríntio é o pesadelo encarnado.

Morpheus, o Senhor do Sonhos, concebeu o Coríntio para assombrar o coração humano, uma responsabilidade que o próprio Perpétuo não queria para si. Segundo as palavras do próprio Sonho: “você é a minha obra-prima, ou assim eu pensava. Um espelho negro feito para refletir tudo aquilo que o ser humano não confronta em si mesmo.”

Por isso, o Coríntio tem bocas no lugar dos olhos. Bocas funcionais, com dentes que mastigam. Olhos que devoram, e bocas que enxergam. Com elas, o Coríntio devora os olhos de homens, jovens e adultos, e assim se apropria de suas memórias, pois ele mesmo não tem uma história própria. É assim que o Coríntio busca sua satisfação: nas histórias dos outros, mesmo que ela nunca tenha sido real. O culpado por isso seria o próprio Morpheus, que o criou adulto e sem lembranças. O Coríntio nunca teve a chance de se desenvolver plenamente, sempre lhe falta algo, e é devorando a memória dos outros que ele busca vorazmente preencher este vazio.

Somado à este vazio, o ressentimento com os limites impostos entre o Sonhar e o mundo desperto. Quando se materializa em nossa dimensão, no mundo dos despertos, o Coríntio vem para aprender mais e mais sobre a dor, a guerra e a morte. Não é possível aprender de verdade no Sonhar, no mundo onírico. Para ele, a dor no sonho não é real, a morte não é real. Ele precisa de mais, precisa saber como é a dor e a morte na realidade humana. Não quer ser apenas uma ferramenta de Morpheus, quer ter sua própria existência.

Certa vez, ele convenceu seu mestre a levá-lo em uma viagem supervisionada para Paris, onde se encontraram com o Destruição. Enquanto o Sonho estava distraído, o Coríntio aproveitou a oportunidade para comer os globos oculares de um macaco que estava sendo dissecado por um pesquisador. Séculos mais tarde, ele se esgueiraria escondido para dentro do mundo desperto e planejaria o assassinato de um jovem. Ao descobrir isso, Morpheus o confrontou, deixando claro para o pesadelo que os limites entre o sono e o mundo desperto eram cruciais, e que ele pretendia desfazê-lo por ter ultrapassado eles. O pesadelo só foi salvo porque o Sonho foi arrancado do Sonhar e aprisionado por meros mortais.

E assim, o Coríntio fugiu.

Durante o aprisionamento de Morpheus, ele viajou pelos Estados Unidos por quase um século, causando dor e morte, assassinando jovens homens e sutilmente influenciando outros a também terem impulsos homicidas. Eles se chamavam de Colecionadores, e o Coríntio acabou se tornando uma espécie de celebridade para eles. Em uma convenção dos Colecionadores, o pesadelo foi agraciado com a chance de discursar perante todos esses fãs serial killers. Sentado na plateia, estava Morpheus.

O Perpétuo então joga em sua cara o que ele se tornou: apenas um assassino, apenas mais uma coisa que causa medo nas pessoas. Ele deveria ser mais do que isso, uma entidade muito maior do que meramente um assassino. É quando o Coríntio retira seus óculos, mostrando seus olhos-bocas ao seu Criador como se pudesse assustá-lo. Tenta então atacar Morpheus com uma faca, porém o Sonho é muito mais poderoso e sabe que não é preciso lutar contra a sua criatura. Compreende que o Coríntio é um aspecto seu e assim como o criou, pode muito bem desfazê-lo. E assim o faz. Morpheus simplesmente o desintegra com um único pensamento, deixando sobre o pó que era seu corpo somente o crânio que ainda mantém os dentes no lugar dos olhos.

Mas o Senhor dos Sonhos sabia que ainda não tinha acabado. Morpheus olha diretamente para o crânio, um

 Hamlet às avessas, e declara: “a próxima vez que eu criá-lo, você não será tão falho e fraco, pequeno sonho.” Assim, muitos anos depois, o Sonho fez um novo Coríntio.

 Ainda que uma entidade diferente, a segunda encarnação possui a memória do primeiro e vê seu antecessor como a si mesmo, mas aparenta ser mais leal ao Sonho. Ao lado de Matthew, o corvo, busca pelo desaparecido Daniel Hall, eventualmente o encontrando e o levando de volta ao Sonhar. O Coríntio estava lá quando Daniel se tornou o novo Sonho, e compareceu ao funeral de Morpheus.

A segunda encarnação do Coríntio é habilidoso no combate corpo-a-corpo. É extremamente resistente à danos e parece ser completamente destemido. Durante sua busca por Daniel Hall na terra nórdica de Svartalfheim, ele, com um esforço mínimo, partiu o pescoço de um lobo sobrenatural com as mãos nuas; mais adiante, enxergou a verdade em meio às ilusões do deus nórdico Loki, derrotando a deidade em um combate único.

Ele também é capaz de possuir seres humanos. Quando assume o controle de um novo hospedeiro, seus olhos são consumidos e substituídos por dentes, e o cabelo de sua vítima se torna branco. Durante todo o processo, suas cavidades oculares sangram profusamente, mas todas as outras características do hospedeiro permanecem as mesmas, o que permite ao Coríntio pular de corpo em corpo. Consumir os olhos de suas vítimas permite que ele veja o que elas viram em suas vidas, e em alguns casos até mesmo o futuro.

Agora, o Coríntio caminha mais uma vez pela Terra. Ainda com as lembranças de seu antecessor, ele busca mais experiências para a sua coleção de morte e dor, como você pode muito bem conferir na série mais recente do The Old Shinobi: TERRA DOS PESADELOS!

Mth

Mth

"Como eu disse, há vários caminhos para o Inferno, e estou trilhando cada um deles..."